quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Humanismo?

Há algumas semanas, participei de uma bela solenidade de condecoração no serviço público, em Maceió. Este seria mais um compromisso de trabalho, caso o homenageado-anfitrião não fosse o professor da Universidade Estadual de Alagoas, Márcio Ferreira. Uma pessoa realmente incrível que escreve maravilhosamente bem, de uma sensibilidade e cavalheirismo encantadores.

Em seu discurso de agradecimento, ele lembrou um fator que anda um tanto esquecido (propositadamente) pela sociedade: o humanismo. Sim, não aquela filosofia que coloca o homem acima do sobrenatural (Deus), mas aquele comportamento moral e ético que enxerga no outro da mesma espécie um individuo merecedor de respeito e de todos os benefícios sociais e psicológicos disponíveis.

Talvez esse texto soe pedante, mas o fato é que me deparo diariamente, na mídia e no meu círculo social, com ações que nada têm a ver com uma postura humana, mas de selvagens em busca de objetivos distintos e egoístas. Leio diariamente textos em sites, jornais que colocam o ser humano como algo qualquer, a ser repudiado e maltratado. Algo que a indignação da poesia “O bicho” de Manoel Bandeira passa longe.

O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
Manoel Bandeira

No âmbito social, essa visão de que apenas os iguais a nós em condições materiais, financeiras (ou qualquer outro critério deturpado que surja) precisam ser respeitados é tão comum quanto no âmbito pessoal. Passamos a enxergar os demais da forma que queremos, que achamos certo. E isso começa ainda na infância. Basta refletir sobre o bullying, hoje tão famoso na mídia, mas que já machucou muitos que vivem em torno de nós. Uma ameaça real ignorada pelos pais, irmãos, amigos...

Todos nós acabamos sendo coniventes com essas atitudes tão desumanas. Seja por calar, seja por não mudarmos nossa própria postura. Quantas vezes deixamos de nos importar com a injustiça infringida contra o outro somente por que aquilo não nos atingia diretamente?

Por que temos que falar em humanização das profissões, da revisão das práticas laborais, quando há muito tempo já existem os códigos de ética? Talvez, tudo precise ser revisto mesmo. Não por que seja somente necessário atualizar, sincronizar com essa nova “sociedade pós-moderna”, mas por que muitos deixaram de cumprir antes... E esses “muitos” não são os desconhecidos distantes... somos nós.

No fim, o professor Márcio Ferreira está certo é preciso resgatar o nosso humanismo.

Um comentário:

  1. As pessoas nem sabem quem são mais, e se não reconhecem a si mesmas, dificilmente reconhecerão o outro como um ser humano digno de respeito. Daí a gente acaba entrando num círculo vicioso.

    Pablo.
    http://rapsodiaboemia.blogsome.com

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